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“Ele era um espírito elevado”
Frazão, religiosidade e amizade

Frazão e amigo

Frazão em um momento de amizade e cumplicidade, expressando em um abraço o carinho pelos amigos.

Frazão era conhecido por sua forte relação com a religiosidade, sendo ligado ao espiritismo e à umbanda. Para as pessoas ao seu redor, seu abraço era descrito como um aconchego especial, quase "de outro mundo". “Ele era uma pessoa de espírito elevado, de uma alma que transcendia esse nosso universo tão apegado a coisas banais”, afirmou o jornalista Daniel Sena, fotógrafo da família. Segundo ele, Frazão demonstrava um profundo desapego aos bens materiais. “Ele não vivia no mundo capitalista”, destacou.

Daniel também ressaltou a serenidade que Frazão transmitia às pessoas ao seu redor. “Era um cara tranquilo, que fazia essa tranquilidade alcançar quem estava perto dele.” Para muitos, ele era visto como uma figura iluminada, que trazia conforto por meio de sua fé e presença. Daniel relembrou um momento marcante com Frazão: “No dia do velório em que meu pai faleceu, ele foi até minha casa e me deu um abraço sincero. Esse gesto ficou gravado em minha memória.”

Rosana e Daniel

Exposição Fotofolia: Rosana e o fotógrafo Daniel seguram um quadro da família Frazão em um carnaval.

Gilsa Freire de Santana, uma grande amiga do professor Frazão e de sua esposa, Luísa, se conheceram no Centro Espírita José Grosso, em Imperatriz, onde participavam de equipes de atendimento espiritual e estudos. Além da vida acadêmica do professor Frazão, a história de sua família sempre chamou atenção por sua dimensão e singularidade, segundo ela.

Em uma visita à família, Gilsa disse emocionada que Frazão mencionou os custos elevados do tratamento do filho adotivo Gabriel, afirmando que já havia investido R$ 5 mil nos cuidados do menino, mas ele acabou falecendo por problemas cardíacos. Apesar dos desafios, ele e Luísa destacavam a vontade de viver expressa no olhar da criança, algo que os motivava a continuar.

A história de Frazão e Luísa reflete um exemplo inspirador de dedicação, solidariedade e compromisso com o próximo, de acordo com sua amiga Gilsa. A generosidade e o trabalho comunitário do casal, amplamente reconhecidos no centro espírita onde atuavam, deixaram um legado admirável e raro, mostrando que atitudes altruístas podem transformar vidas.

Segundo Gilsa, muitos aspectos da vida de Frazão estavam ligados à sua religiosidade, que ela passou a aprimorar ao frequentar o centro espírita. Ela relembra que Luísa, esposa de Frazão, mencionava que ele atendia pessoas em casa para dar passes. "Eles fizeram um local lá na casa dele para ele atender, mas não era algo permanente", explica Gilsa. Também recorda que as visitas aconteciam em momentos inesperados: "Chegava gente na hora do almoço, até mesmo de madrugada e ele atendia”.  Mas revela que não sabe ao certo qual  era o cargo que ele exercia na umbanda, da qual também era adepto. “Não sei se ele era pai de santo, mas ele chegou a atender aqui, disso eu me lembro".

Com o passar do tempo, Frazão e Luísa decidiram se afastar dessas práticas. "Eles passaram um tempo afastados. A Luísa fazia parte dos escoteiros, mas também se distanciou do Centro Espírita. Não era algo relacionado à umbanda, mas à umbanda mesmo eles também se afastaram", explica Gilsa.

Mesmo assim, Frazão continuou seu trabalho solidário, fabricando e distribuindo pomadas para quem precisava. "Inclusive, eu cheguei a ir com ele à Colônia João XXIII, onde ele levava as pomadas para as irmãs utilizarem nos doentes, ajudando a fazer os curativos", lembra Gilsa. A Colônia João XXIII é uma instituição que presta assistência a hansenianos, e o trabalho do professor era voluntário e foi marcante. "Era um trabalho grande. Eu participei desde cedo, vendo as irmãs aplicando as pomadas nos doentes e cuidando dos curativos. Era algo muito significativo".

Gilsa também comenta sobre o trabalho de Frazão com pomadas medicinais e sua atuação na comunicação. “Ele tinha um programa. Eu cheguei a assistir, mas não sei em qual televisão era. Ele tinha um programa que falava sobre as plantas medicinais", com um pouco de dificuldade ela tenta lembrar. Aliás, ela menciona que acompanhou algumas edições do programa, admirando seu conhecimento. A atração televisiva mencionada pela amiga da família, chamava-se “Programa Verde”, fazia parte da grade de programação da TV Difusora Sul, retransmissora do SBT em Imperatriz. Buscamos contato com a emissora para obter informações sobre os episódios exibidos, mas não recebemos retorno.

Frazão e irmãos

Frazão ao lado de seus irmãos, em um registro que simboliza laços familiar de união.

Segundo Gilsa, Frazão nunca cobrava pelas pomadas, elas eram feitas e disponibilizadas para os cidadãos. “Todo mundo ia lá na casa dele e pegava, porque já tinha se tornado conhecido", explica. A generosidade e dedicação dele marcaram a comunidade, consolidando seu legado como uma pessoa altruísta, o que levou a conquistar muita gente na cidade.

Frazão também não gostava de vincular o seu trabalho a movimentos religiosos ou a seitas, afastando-se da imagem de líderes carismáticos que usam a fé como ferramenta de lucro. “Ele não tinha um movimento para lucrar, não fundou uma seita, não tinha a religião como discurso. Não era um desses fanáticos que arrebanha pessoas e promete salvação”, destaca Gilsa.

O professor Gilberto Freire de Santana, do curso de Letras da Uemasul, foi amigo e trabalhou com Frazão na universidade. Mesmo sendo de cursos diferentes, os dois tiveram bastante contato. “Frazão foi dessas pessoas que a gente tem orgulho de ter participado da vida antes dele. Eu participei pouco, mas minha admiração, meu carinho... era o meu olhar para o Frazão e o olhar que eu permaneço. Dessa pessoa digna, desse pesquisador e dessa pessoa amorosa para com o outro”, elogia.

Frazão e Ana Paula

Frazão e sua filha, Ana Paula, em um momento marcante.

Segundo o professor Gilberto, Frazão se destacou como uma figura de resistência. “Mesmo atingindo um grau de intolerância devastador, profissionalmente e humanamente, ele permaneceu graúdo, altão e abraçando a todos nós e continuou sendo ele mesmo", afirmou, em referência à polêmica que foi instaurada após uma reportagem depreciativa exibida em um quadro do programa Fantástico, da Rede Globo. Sua postura sempre foi de integridade, sendo uma referência tanto como pesquisador quanto como ser humano para a cidade e para os que conviviam com ele.

Sua conexão com a natureza, não apenas em sua pesquisa, mas também em sua vida, transcendia barreiras. “Não tinha fronteiras, mas isso era natural, pela natureza dele, porque ele lidava com a natureza. O objeto de pesquisa dele era essa natureza”, ressalta Gilberto. Frazão possuía uma relação profunda com o mundo natural, e isso se refletia em sua maneira de ser, acolhendo todos ao seu redor sem distinções, em qualquer situação.

Frazão e filha

Frazão comemora o aniversário de sua filha, Ana Paula, com muito carinho.

Entretanto, a vida de Frazão não foi isenta de tragédias. Um dos momentos mais dolorosos foi a perda de um dos filhos adotados, que sofreu um acidente trágico em uma piscina. Apesar da dor imensurável, Frazão e sua esposa lidaram com a situação de forma admirável. “Ele e a esposa dele conseguiram lidar com as tragédias de uma forma muito serena para nós ao redor”, relembrou o colega. A capacidade de Frazão de manter sua serenidade diante da dor foi algo que comoveu todos que o conheciam.

Mesmo após algumas tragédias, Frazão não se permitiu ser consumido pelo sofrimento. “Eu o encontrei e ele sempre estava do mesmo jeito, mas não deve ter sido fácil, como eu disse. Mas ele pelo menos se mostrou ileso. Ele via a gente, via as pessoas, ia lá abraçar, falar as brincadeiras únicas dele”, comenta Gilberto. Segundo o amigo de trabalho, essa habilidade de manter a leveza, mesmo nos momentos mais difíceis, era uma característica marcante de Frazão. Ele era uma pessoa que, ao abraçar alguém, transmitia uma sensação de força e acolhimento.

REPORTAGEM

Tayná Duarte


DIAGRAMAÇÃO E MONTAGEM

Tayná Duarte e Rubem Rodrigues


IMAGENS

Arquivo Pessoal, Daniel Sena, Edmara Silva, Fernando Cunha,

TV Difusora (afiliada do SBT) e Globoplay

ESTE TRABALHO FOI ELABORADO COMO PARTE DA CONCLUSÃO DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL COM HABILITAÇÃO EM JORNALISMO DO CENTRO DE CIÊNCIAS DE IMPERATRIZ (CCIM), SOB A ORIENTAÇÃO DO PROF. DR. ALEXANDRE MACIEL.

12 de fevereiro de 2025

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